segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

sábado, 6 de dezembro de 2008

Montevideo a Buenos Aires - Fim da viagem!







Hora Saída: 5h40
Hora Chegada: 21h20
Distância: 182 quilômetros

Levantei cedo para tentar cumprir esta última etapa, a mais longa de toda a viagem. Como não havia informação precisa quanto aos horários de travessia do Rio de La Plata, receava ter que dormir em Colônia Del sacramento, no Uruguai. Saí de Montevidéu ainda escuro e com um friozinho castigante. Logo pude perceber que meu ritmo não seria dos melhores. A informação dada pelo recepcionista do hotel para pegar a Ruta 1 sentido Colônia foi precisa.

Até o KM 125 a rodovia é duplicada e de ótima qualidade, mesclando trechos de asfalto e concreto, com muitas subidas e descidas e plantações de soja. Pelo que pude observar pelas regiões que passei, o Uruguai é um país essencialmente agrícola e muito mecanizado. A partir do KM 125 a rodovia está em obras, com trânsito pesado de veículos e máquinas que estão trabalhando na obra de duplicação, obrigando a disputar com os "grandões" um espaço já apertado.

Neste ponto parei em um restaurante para trocar a minha água que estava quente. Tive a oportunidade de conhecer o Valdemar, um brasileiro que mora há dez anos em Montevidéu, além de um grupo de motociclistas vindos de São Paulo, cujo guia viajou pelo mundo por oito anos, conhecendo todos os continentes. O papo rolou bacana, mas me tomou um tempo importante.

Às 17h30 cheguei a Colônia e fui direto para o porto para verificar meu translado a Buenos Aires. O barco havia acabado de sair e o próximo seria somente às 20h. Não me importei pois, no ritmo que eu vinha, este tempo de espera veio bem a calhar. Pude "me curtir" um pouco e sentir meus músculos relaxarem, pois minha meta estava próxima do final.

Neste momento senti uma alegria muito grande e comecei a chorar, lembrando do meu pai e suas palavras: filho, cuide-se! A travessia de barco durou uma hora. Descendo no lado argentino procurei a migração para legalizar a minha entrada no país. Depois de alguns tropeços, descobri que a empresa que faz o traslado, no momento do check in, providencia este documento. Bacana! Do porto até o hotel que eu havia feito reserva foram apenas cinco quadras de pedalada. Assim, 991 quilômetros e oito dias após chego ao meu destino. O sabor da conquista é algo indescritível.

NÓS CONSEGUIMOS!
Meu email de contato: pedalandopelaamerica@hotmail.com

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Minas a Montevideo








Hora Saída: 8h30
Hora Chegada: 15h20
Distância: 112 quilômetros

O hotel onde me hospedei era 3 estrelas (o cliente e mais duas no céu). Havia apenas pão e um bolo seco para comer. O leite do café acabou, o que foi resolvido 10 minutos depois, quando voltaram de algum mercado trazendo o produto. Na saída, usei a lógica e voltei pelo caminho qual entrei. Eu estava errado, era para o outro lado.

Nesta minha viagem tenho encontrado pessoas de todos os tipos, mas a grande maioria é solícita. Eu não comentei, mas não consegui enviar as fotos no dia anterior por não ter encontrado um cabo de conexão de internet e meu notebook de 10'' não tem wireless. Normalmente nestes casos vou a uma lan house e resolvo, mas ontem não foi possível, pois o camarada me enxotou de
seu estabelecimento, dizendo que minha máquina poderia desconfigurar sua rede, que é por antena. Tenho, por segurança, um pen drive onde salvo todos os meus arquivos, mas não sei a senha da conta de email que uso e que suporta o envio de fotos, que é automática em minha máquina.

Explicações à parte, peguei novamente a Ruta 8 no sentido a Montevideo. O dia estava perfeito para pedalar, sem vento e com uma temperatura muito agradável (neste momento lembrei daquela música "e se teu amigo vento não te procurar, é por que multidões ele foi arrastar...” Não lembro quem cantava , mas este refrão não saia da minha cabeça).

Os primeiros quilômetros foram uma festa. No KM 38, porém, senti uma queda de pressão e um mal estar. Inicialmente pensei que poderia ter sido algo que comi, mas logo percebi que meu organismo estava mandando algum recado. Diminui o ritmo para ver se haveria alguma reação, mas a situação só piorou. Parei, comi uma maçã e despejei água sobre a minha cabeça. Quinze minutos depois, já em melhores condições, continuei a pedalada num ritmo mais lento.

Até o KM 55 a rodovia está em péssimo estado, sendo impossível andar no acostamento. O trânsito mais intenso requereu maior atenção. Até o momento, o único susto que levei foi com um veículo brasileiro que passou muito perto de mim. Mais adiante havia um carro com problemas mecânicos parado no acostamento. Procurei pelo motorista e o localizai mais adiante. Perguntei se ele precisava de ajuda. Me disse que não, que tinha chamado o socorro, só não sabia informar em que quilômetro estava. Eu tinha a informação e lhe passei. Ele me agradeceu e segui adiante. Aquele ato me deu uma alegria muito grande; como é bom ser útil!

Aqui, os estados são muito pequenos. Passei por Lavalleja (a capital é Minas), Canelone e finalmente Montevideo. Algo interessante a observar no Uruguai é a quantidade de carros antigos, muitas preciosidades abandonadas ao relento. Para quem gosta de ferrugem é um deleite. A chegada a Montevideo é de certa forma comparada a São Paulo pelo trânsito confuso, pessoas indo e vindo, sujeira e outros. Num posto de gasolina avistei um táxi e pedi informação sobre hotéis. Ele prontamente me respondeu. Logo apareceu outro taxista que começou a reclamar com ele, dizendo que estava perdendo tempo. Pude perceber que aquilo não era um posto, e sim a saída de uma empresa de táxis. Coisas da vida.. Às 15h20min encostei minha "viatura" na frente de um hotel, talvez quatro estrelas. Uma beleza!

Como hoje o pedal foi tranqüilo, pude refletir sobre os sete dias em que estou pedalando e algumas frases me vieram à mente.

1 - Olhando de longe , toda subida é maior do que realmente é.

2 - Nunca desista dos seus sonhos , por mais impossíveis que sejam.

3 - Nossos sonhos nada mais são que mensagens recebidas.

4 - Um dia pode ser difícil, dois dias podem ser difíceis, três dias podem ser difíceis, mas o quarto dia pode ser de colheita.

5 - A verdade que buscamos está dentro de cada um de nós.

6 - Não existem inimigos, existem apenas elementos que dificultam nossa caminhada, o que é ótimo para nosso crescimento.
Meu email de contato durante a viagem: pedalandopelaamerica@hotmail.com

Jose Pedro Varela a Minas








Hora Saída: 8h15
Hora Chegada: 19h20
Distância: 136 quilõmetros

O dia amanheceu frio (15º Célcius) e com pouco vento. Procurei sair um pouco mais cedo para não ter a surpresa do dia anterior. Logo que peguei o asfalto pude perceber que o vento não me abandonaria. Acho até que nós temos uma relação bem interessante. Ele faz a parte dele, que é me segurar, e eu faço a minha, que é desafiá-lo. Como de hábito, concentro meu campo de visão entre a bike e aproximadamente um metro para frente.

Para minha surpresa o sol refletia pêlos em minha calça. Isto mesmo, pêlos! Fotografei para que vocês não me chamem de mentiroso. Agora, vejam só, além de lavar a calça terei que barbeá-la. Falando nisso, percebi que minha barba tem crescido menos, algo para algum entendido explicar. O trajeto de hoje é muito bonito, com belos campos e árvores, de um verde contagiante. O sobe e desce dos dias anteriores continuou, parece até marca registrada. O vento, bem... O vento, este incansável, não me deu sossego.

Tenho agora a sensação de que pedalei com duas bicicletas. Mariscala é o primeiro posto de apoio, 76 quilômetros depois de Jose Pedro Varela. Estava fazendo um lanche e conversando com o atendente do local quando chegou um senhor com poucos dentes que me perguntou em inglês se eu falava inglês. Respondi em alemão que falava um pouco de alemão. Para quê... Ele era alemão! Então, imaginem, alemão, português e espanhol misturados, uma confusão só. O problema é que ele gostou do papo e não me largava mais.

Quando saí, ele foi andando do meu lado dizendo que não gostava das leis, que ali era bom porque podia andar de moto sem capacete. Estas coisas. Acelerei o pedal para me desvencilhar dele, então olhei para trás e vi que ele estava parado acenando para mim. Também acenei e ri muito daquela situação. Este episódio valeu o dia. Em alguns momentos o vento era tão frio e forte que lágrimas escorriam dos meus olhos. Também precisava escolher árvores para que meu excremento líquido não me molhasse. Assim, no início da noite, um zumbi ciclista, ou um zumbilista, chegava ao seu destino.

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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Treinta y Tres a José Pedro Varela



Hora Saída: 10h
Hora Chegada: 13h
Distância: 30 quilômetros

Pelo esforço do dia anterior dei-me o direito de dormir até mais tarde. Acordei com um pouco de febre, mas fisicamente estava bem. Olhei para fora para verificar as condições climáticas, o tempo estava nublado e ventava um pouco. Quebrando paradigmas, arrumei as minhas coisas demoradamente, afinal, depois de ter feito o que fiz no dia anterior nada poderia me abater.

Na saída, peguei a Ruta 8 sentido Minas, e logo pude perceber que o dia não seria tão fácil assim. O vento insistente começou a soprar mais forte, tornando a pedalada muito difícil. Me senti muito pequeno diante da força da natureza e do meu próprio ego, pois empreitadas como esta não permitem nenhum tipo de descuido ou relaxamento.

Chegando em José Pedro Varela, com apenas 30 quilômetros rodados e 3 horas de pedal avistei um posto na beira da estrada (o primeiro em 160 quilômetros). O vento inicial havia se transformado numa tempestade, acompanhado por uma chuva dolorida e fria. Pelos meus cálculos, naquele ritmo, chegaria de madrugada no meu destino.

O posto possuia uma espécie de lanchonete/mercado muito acolhedor (tirado o fato de a atendente preferir seu joguinho no celular a me atender). Pedi um lanche e um café quente. Ordenando minha confusão mental, decidi que seria impossível continuar. Voltaria a Treinta y Tres e recomeçaria tudo no dia seguinte, mais cedo.

Há uma diferença entre aventura e peregrinação. Faço um planejamento minucioso do meu roteiro e procuro estar atento a todas as mensagens recebidas. Muitos me dizem: você é louco! E eu penso: louco é quem não se experimenta. E isto me permite compreender os meus segredos e os meus limites. Talvez este seja o grande motivo das minhas peregrinações. Me preparando para retornar, perguntei ao frentista do posto se havia algum hotel naquele lugarejo. Para minha surpresa ele disse que sim. Fechei os olhos e agradeci pela benevolência.
Meu email de contato na viagem: pedalandopelaamerica@hotmail.com

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Jaguarão a Treinta y Tres (Uruguai)







Hora Saída: 8h30
Hora Chegada: 20h15
Distância: 130 quilômetros

Meu primeiro compromisso do dia foi passar numa casa de câmbio ainda em Jaguarão e comprar pesos uruguaios. Após atravessar a ponte que divide os dois países, procurei a aduana e o departamento de migração para legalizar minha entrada no país. Procedimento rápido e simples. Neste momento uma chuva começou a cair, para fazer companhia ao vento já existente. Após 9 quilômetros percorridos, peguei a esquerda na Ruta 18 rumo a Treinta y Tres, capital do estado (departamento) de mesmo nome.

Aí o bixo pegou. O vento frontal não me permitiu andar com velocidades superiores a 10 km/h. As rajadas eram tão fortes que por várias vezes fui empurrado para fora da pista. Para completar, a chuva fina ia e vinha. Quem pedala sabe o quanto a soma destas duas intempéries dificulta o pedal. Por momentos, rezava pedindo proteção, por outros rechaçava o vento desferindo-lhe palavtrões (isto também acontece...), o que me deixou rouco. Nunca, em nenhum momento da vida de pedalante, passei por momentos tão difíceis.

Por várias vezes pensei que não seria capaz de completar o trecho pretendido. Nesta região do pampa uruguaio há enormes pastagens de rara beleza e perfeitas para o vento se deslocar ferozmente. Entre os quilômetros 30 e 38, a pavimentação asfáltica está sendo refeita, obrigando todos a andarem por um caminho de cascalho. Neste momento perdi uma de minhas garrafas de água.

Um fato interessante é o respeito que os motoristas têm pelo ciclista, apesar de não demonstrarem o menor interesse por este. Vergara está 56 quilômetros antes de Treinta y Tres. Dado minha condição lamentável, decidir inicialmente dormir por lá. Nada feito. Vergara é uma vila pequena e muito simples, e não possui hospedagem.

Retomada a estrada, decidi que a única possibilidade que teria de sobreviver seria pedalando. Já era 16h e o vento não dava o menor sinal de que iria aliviar. Como dificuldade pouca é bobagem, logo a estrada começou a ficar sinuosa, com subidas e descidas que mais pareciam uma montanha-russa. Talvez quem passe de carro nem perceba. O vento era tão intenso que quase parava a bike na descida e na subida. Bom, deixa para lá, já passou mesmo.Também fiquei sem água e sem comida, pois não há infra-estrutura de apoio nada neste trecho.

Quase doze horas após sair de Jaguarão chego a Treinta e Tres, com céu parcialmente limpo e vento mais brando. Foi difícil acreditar que consegui. Ops, conseguimos! No quarto do hotel, após o banho, ajoelhei para agradecer a conquista e também pedi perdão pelos palavrões.

Meu email de contato na viagem: pedalandopelaamerica@hotmail.com

domingo, 30 de novembro de 2008

Pelotas a Jaguarão



Hora Saída: 8h30
Hora Chegada: 15h15
Distância: 140 quilômetros

Preguiça para levantar. Talvez seja o efeito "domingo", mas hoje eu tive que fazer muita força para sair da cama. Falando em domingo, já começo a ter dificuldade em lembrar que dia da semana estou. Bacana, já entrei no clima de pedalante viajante! Ao olhar para fora, uma agradável surpresa: o tempo estava nublado, o que é ótimo para pedalar.

Meu projeto inicial previa entrar no Uruguai pelo Chuí, o que fui amplamente desaconselhado pelos nativos, por conta da total falta de apoio em 240 quilômetros e pela não confirmação de uma possível hospedagem perto da Reserva do Taim. Conselho aceito, mudei meu caminho para Jaguarão, mais a Oeste do estado do Rio Grande do Sul.

Saindo de Pelotas, uma placa indicava que o próximo posto de abastecimento estava a 75 quilômetros. Falando em placas, aqui vai uma dica: nunca confie nas que indicam distância, pois em sua maioria trazem informações erradas. Hoje, por exemplo, havia uma que indicava Jaguarão a 124 quilômetros e dois quilômetros depois, outra indicava Jaguarão a 128 quilômetros. Este trecho não possui acostamento transitável, obrigando a andar em cima da pista.

Logo pude perceber que meu rendimento seria bom , conseguindo manter médias elevadas por um bom tempo (30 km/h a 35 km/h) enquanto a pista era plana. Pude andar por longos trechos sem trânsito de veículos, o que conferiu certa tranquilidade. Bom, como nada dura para sempre , a partir do KM 40, começou o sobe e desce que perdurou até o final da jornada, derrubando meu rendimento. A noção que temos de subida quando andamos de carro é totalmente diferente de quando pedalamos de bike, onde qualquer elevação é uma subida. Faltando 15 quilômetros para chegar em Jaguarão, a chuva caiu com vontade , um presente bem legal para coroar o dia.

Notas: Pensando em como contibuir para que novos cicloturistas se aventurem, seguem algumas informações que considero interessantes:

1) A bicicleta é como um calçado, possui número, o que é conseguido através de cálculos que dão uma idéia do seu perfil. Mas lembre-se, a melhor bicicleta é aquela que te dá prazer em pedalar.

Dados da bibicleta que utilizo:
Marca = Cyctec
Procedência = Alemanha
Quadro = Alumínio 21”
Aro = 28"
Freios = Magura hidráulico
Câmbio = Shimano Deore 27v

2)
A bolsa que for utilizar deverá ser de boa qualidade , com costuras resistentes a impactos e que permita a fixação no bagageiro.

Dados do alforge que utilizo = Arara Una 25,0 L .

3) Os alforges disponíveis no mercado não garantem 100% de estanqueidade, então ensaco todos os meus pertences , separados por tipo (camisas, meias, etc). Diariamente lavo no chuveiro a roupa que utilizei, e descarto cueca e meias.

sábado, 29 de novembro de 2008

Camaquã a Pelotas






Hora saída: 8h30
Hora Chegada: 16h05
Distância: 132 quilômetros

Para mim o segundo dia é normalmente o mais difícil , em razão da queima de energia do dia anterior e também por não ter ritmo de viagem. Logo percebi que hoje seria diferente, pois sentia-me muito bem , exceção dada ao meu "elemento sentante", que estava um pouco irritado. No primeiro quilômetro percorrido encontrei um cidadão empurrando sua bike com o pneu furado. Seria um aviso? E era. Com menos de seis quilômetros percorridos, meu pneu traseiro furou.

Bem bacana, o dia prometia ser uma beleza! Câmera substituída, subi na bike para continuar o meu caminho. Observei que quanto mais avançava para o Sul, mais a seca castigava esta região, onde rios largos transformaram-se em pequenos veios d'água. Em Cristal, parei numa borracharia para consertar a câmara furada. O cidadão me enxotou de lá dizendo que não tinha tempo para executar o serviço. Saí de fininho pedindo desculpas pela minha intromissão. Sei lá, mas talvez as pessoas avaliem as outras pelo veículo que utilizam.

Meu ritmo de viagem foi muito bom, com média entre 25 km/h e 30 km/h, apesar do sol escaldante que - mesmo com protetor solar de FPS 50 - queimou minhas pernas. Por causa do calor, resolvi usar o short, mas amanhã voltarei a utilizar a calça. Ao longo da rodovia muitas placas informavam que é proibido trafegar pelo acostamento. Pensei: e eu, o que faço? Ando na pista de rolamento? Brincadeiras à parte, tive sim que andar pela pista por longos trechos, em razão do péssimo estado do acostamento, mesmo a rodovia sendo privatizada.

Porto Alegre a Camaquã





Hora saída: 9h45
Hora chegada: 17h15
Distância: 129,0 km

Saí de Porto Alegre com 26º Celcius e fora do horário habitual, pois normalmente procuro iniciar minha pedalada cedo. Culpa de um fenômeno chamado memória presente, ou seja, minha cabeça ainda está no trabalho. Nada que dois ou três dias não resolvam. Optei em utilizar a Avenida Castelo Branco até a saída pela ponte do rio Guaíba. Logo no início cruzei com um ciclista local que me fez várias perguntas, e que me acompanhou até atravessar a ponte, onde parei para tirar algumas fotos. Ele seguiu o seu caminho.

Para minha surpresa logo depois ele apareceu "pilchado" de ciclista e disse que iria me acompanhar por um tempo. Figura rara que andou comigo por 25 quilômetros. Só quando nos despedimos soube que seu nome era Jeferson (rsrs). Retomada minha peregrinação, deu para perceber que o calor seria o meu carrasco. Num momento de distração, um grande susto. Ao recolocar a garrafa d'água na bolsa dianteira saí do acostamento e dei um salto em direção ao mato. Por sorte foi apenas um susto.

Entre Guaíba e Barra do Ribeiro, um caminhão caído na beira da estrada lembrou dos perigos das nossas rodovias. Parei para conversar com o motorista, que me contou que dormiu ao volante. O calor crescente fez-me arrepender de ter optado em colocar a calça, que tem a função de proteger a pele dos raios UV's , mas que traz desconforto pelo suor. Meu rendimento começou a cair e baixou dos 25 km/hora para 15 km/hora. Neste momento muita coisa passa pela cabeça, inclusive o porquê de estar pedalando.Antes de Sentinela do Sul, muitos índios guaranis vivem de forma precária. Famílias inteiras sobrevivem da venda de artesanato em absoluto estado de pobreza.

Desconfiados, foi difícil convencê-los a tirar uma foto. Na primeira delas o indígena que a bateu, "cortou" a minha cabeça da imagem. Rimos muito, numa apologia há tempos remotos. Nenhuma nuvem no céu e meu corpo começou a dar sinais de exaustão. Neste momento, pedi proteção aos meus guias. Depois de alguns quilômetros, vi no meio do mato uma bandeira de posto BR. Achei que fosse miragem.

Neste posto pude tomar um banho de mangueira e baixar o calor do meu corpo. Refeito, retomei minha pedalada. Faltavam 40 quilômetros para chegar a Camaquã. Subdividi meu objetivo em pequenas partes, de cinco em cinco quilômetros, para que cada conquista fosse celebrada como uma vitória. Lição do dia: "muitas vezes objetivamos o todo e esquecemos as partes".O vento, que até então fazia força contrária, passou a me empurrar e rapidamente cheguei a Camaquã. Lembram dos meus guias? Pois é, novamente, Eles fizeram a diferença.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O começo




Os momentos que antecedem uma viagem são sempre de muita expectativa. Conseguir deixar o trabalho encaminhado, arrumar a bagagem, a bike, documentos, check list, enfim , todos os fatores que envolvem esta preparação mexem, de certa forma, com meu sistema emocional. Ainda mais desta vez, com uma catástrofe formada ao nosso redor.

Neste momento de dificuldade sinto-me privilegiado e egoísta ao mesmo tempo. Sentimentos antagônicos, mas que se justificam pelo fato de minha família ter sido poupada desta tragédia, e também de eu estar indo me divertir enquanto muitos choram os seu mortos. Mas a vida segue, e que bom que sempre é possível recomeçar.

A realização desta viagem de bike entre Porto Alegre e a Argentina iniciou-se há muito tempo - talvez dois anos - e foi seguidamente adiada por fatores externos ao meu controle. Para realizá-la desta vez , foi preciso muita vontade para não desistir. A enchente adiou minha programação em um dia. Precisei também alterar meu deslocamento a Porto Alegre, que era de ônibus, para avião; o acúmulo de serviço; um joelho machucado (ninguém sabe, mas ontem perdi a paciência com o meu cachorro, saí correndo atrás dele e acabei pisando de mau jeito), entre outros.

Mas, aqui estou eu, feliz da vida por este novo desafio que se desenha. O embarque da bike no aeroporto de Florianópolis foi tranqüilo, com ressalva à taxa de R$ 100 que a Gol cobra pela bagagem esportiva (mesmo estando embalada e abaixo de 23 quilos). Um absurdo!