domingo, 30 de novembro de 2008

Pelotas a Jaguarão



Hora Saída: 8h30
Hora Chegada: 15h15
Distância: 140 quilômetros

Preguiça para levantar. Talvez seja o efeito "domingo", mas hoje eu tive que fazer muita força para sair da cama. Falando em domingo, já começo a ter dificuldade em lembrar que dia da semana estou. Bacana, já entrei no clima de pedalante viajante! Ao olhar para fora, uma agradável surpresa: o tempo estava nublado, o que é ótimo para pedalar.

Meu projeto inicial previa entrar no Uruguai pelo Chuí, o que fui amplamente desaconselhado pelos nativos, por conta da total falta de apoio em 240 quilômetros e pela não confirmação de uma possível hospedagem perto da Reserva do Taim. Conselho aceito, mudei meu caminho para Jaguarão, mais a Oeste do estado do Rio Grande do Sul.

Saindo de Pelotas, uma placa indicava que o próximo posto de abastecimento estava a 75 quilômetros. Falando em placas, aqui vai uma dica: nunca confie nas que indicam distância, pois em sua maioria trazem informações erradas. Hoje, por exemplo, havia uma que indicava Jaguarão a 124 quilômetros e dois quilômetros depois, outra indicava Jaguarão a 128 quilômetros. Este trecho não possui acostamento transitável, obrigando a andar em cima da pista.

Logo pude perceber que meu rendimento seria bom , conseguindo manter médias elevadas por um bom tempo (30 km/h a 35 km/h) enquanto a pista era plana. Pude andar por longos trechos sem trânsito de veículos, o que conferiu certa tranquilidade. Bom, como nada dura para sempre , a partir do KM 40, começou o sobe e desce que perdurou até o final da jornada, derrubando meu rendimento. A noção que temos de subida quando andamos de carro é totalmente diferente de quando pedalamos de bike, onde qualquer elevação é uma subida. Faltando 15 quilômetros para chegar em Jaguarão, a chuva caiu com vontade , um presente bem legal para coroar o dia.

Notas: Pensando em como contibuir para que novos cicloturistas se aventurem, seguem algumas informações que considero interessantes:

1) A bicicleta é como um calçado, possui número, o que é conseguido através de cálculos que dão uma idéia do seu perfil. Mas lembre-se, a melhor bicicleta é aquela que te dá prazer em pedalar.

Dados da bibicleta que utilizo:
Marca = Cyctec
Procedência = Alemanha
Quadro = Alumínio 21”
Aro = 28"
Freios = Magura hidráulico
Câmbio = Shimano Deore 27v

2)
A bolsa que for utilizar deverá ser de boa qualidade , com costuras resistentes a impactos e que permita a fixação no bagageiro.

Dados do alforge que utilizo = Arara Una 25,0 L .

3) Os alforges disponíveis no mercado não garantem 100% de estanqueidade, então ensaco todos os meus pertences , separados por tipo (camisas, meias, etc). Diariamente lavo no chuveiro a roupa que utilizei, e descarto cueca e meias.

sábado, 29 de novembro de 2008

Camaquã a Pelotas






Hora saída: 8h30
Hora Chegada: 16h05
Distância: 132 quilômetros

Para mim o segundo dia é normalmente o mais difícil , em razão da queima de energia do dia anterior e também por não ter ritmo de viagem. Logo percebi que hoje seria diferente, pois sentia-me muito bem , exceção dada ao meu "elemento sentante", que estava um pouco irritado. No primeiro quilômetro percorrido encontrei um cidadão empurrando sua bike com o pneu furado. Seria um aviso? E era. Com menos de seis quilômetros percorridos, meu pneu traseiro furou.

Bem bacana, o dia prometia ser uma beleza! Câmera substituída, subi na bike para continuar o meu caminho. Observei que quanto mais avançava para o Sul, mais a seca castigava esta região, onde rios largos transformaram-se em pequenos veios d'água. Em Cristal, parei numa borracharia para consertar a câmara furada. O cidadão me enxotou de lá dizendo que não tinha tempo para executar o serviço. Saí de fininho pedindo desculpas pela minha intromissão. Sei lá, mas talvez as pessoas avaliem as outras pelo veículo que utilizam.

Meu ritmo de viagem foi muito bom, com média entre 25 km/h e 30 km/h, apesar do sol escaldante que - mesmo com protetor solar de FPS 50 - queimou minhas pernas. Por causa do calor, resolvi usar o short, mas amanhã voltarei a utilizar a calça. Ao longo da rodovia muitas placas informavam que é proibido trafegar pelo acostamento. Pensei: e eu, o que faço? Ando na pista de rolamento? Brincadeiras à parte, tive sim que andar pela pista por longos trechos, em razão do péssimo estado do acostamento, mesmo a rodovia sendo privatizada.

Porto Alegre a Camaquã





Hora saída: 9h45
Hora chegada: 17h15
Distância: 129,0 km

Saí de Porto Alegre com 26º Celcius e fora do horário habitual, pois normalmente procuro iniciar minha pedalada cedo. Culpa de um fenômeno chamado memória presente, ou seja, minha cabeça ainda está no trabalho. Nada que dois ou três dias não resolvam. Optei em utilizar a Avenida Castelo Branco até a saída pela ponte do rio Guaíba. Logo no início cruzei com um ciclista local que me fez várias perguntas, e que me acompanhou até atravessar a ponte, onde parei para tirar algumas fotos. Ele seguiu o seu caminho.

Para minha surpresa logo depois ele apareceu "pilchado" de ciclista e disse que iria me acompanhar por um tempo. Figura rara que andou comigo por 25 quilômetros. Só quando nos despedimos soube que seu nome era Jeferson (rsrs). Retomada minha peregrinação, deu para perceber que o calor seria o meu carrasco. Num momento de distração, um grande susto. Ao recolocar a garrafa d'água na bolsa dianteira saí do acostamento e dei um salto em direção ao mato. Por sorte foi apenas um susto.

Entre Guaíba e Barra do Ribeiro, um caminhão caído na beira da estrada lembrou dos perigos das nossas rodovias. Parei para conversar com o motorista, que me contou que dormiu ao volante. O calor crescente fez-me arrepender de ter optado em colocar a calça, que tem a função de proteger a pele dos raios UV's , mas que traz desconforto pelo suor. Meu rendimento começou a cair e baixou dos 25 km/hora para 15 km/hora. Neste momento muita coisa passa pela cabeça, inclusive o porquê de estar pedalando.Antes de Sentinela do Sul, muitos índios guaranis vivem de forma precária. Famílias inteiras sobrevivem da venda de artesanato em absoluto estado de pobreza.

Desconfiados, foi difícil convencê-los a tirar uma foto. Na primeira delas o indígena que a bateu, "cortou" a minha cabeça da imagem. Rimos muito, numa apologia há tempos remotos. Nenhuma nuvem no céu e meu corpo começou a dar sinais de exaustão. Neste momento, pedi proteção aos meus guias. Depois de alguns quilômetros, vi no meio do mato uma bandeira de posto BR. Achei que fosse miragem.

Neste posto pude tomar um banho de mangueira e baixar o calor do meu corpo. Refeito, retomei minha pedalada. Faltavam 40 quilômetros para chegar a Camaquã. Subdividi meu objetivo em pequenas partes, de cinco em cinco quilômetros, para que cada conquista fosse celebrada como uma vitória. Lição do dia: "muitas vezes objetivamos o todo e esquecemos as partes".O vento, que até então fazia força contrária, passou a me empurrar e rapidamente cheguei a Camaquã. Lembram dos meus guias? Pois é, novamente, Eles fizeram a diferença.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O começo




Os momentos que antecedem uma viagem são sempre de muita expectativa. Conseguir deixar o trabalho encaminhado, arrumar a bagagem, a bike, documentos, check list, enfim , todos os fatores que envolvem esta preparação mexem, de certa forma, com meu sistema emocional. Ainda mais desta vez, com uma catástrofe formada ao nosso redor.

Neste momento de dificuldade sinto-me privilegiado e egoísta ao mesmo tempo. Sentimentos antagônicos, mas que se justificam pelo fato de minha família ter sido poupada desta tragédia, e também de eu estar indo me divertir enquanto muitos choram os seu mortos. Mas a vida segue, e que bom que sempre é possível recomeçar.

A realização desta viagem de bike entre Porto Alegre e a Argentina iniciou-se há muito tempo - talvez dois anos - e foi seguidamente adiada por fatores externos ao meu controle. Para realizá-la desta vez , foi preciso muita vontade para não desistir. A enchente adiou minha programação em um dia. Precisei também alterar meu deslocamento a Porto Alegre, que era de ônibus, para avião; o acúmulo de serviço; um joelho machucado (ninguém sabe, mas ontem perdi a paciência com o meu cachorro, saí correndo atrás dele e acabei pisando de mau jeito), entre outros.

Mas, aqui estou eu, feliz da vida por este novo desafio que se desenha. O embarque da bike no aeroporto de Florianópolis foi tranqüilo, com ressalva à taxa de R$ 100 que a Gol cobra pela bagagem esportiva (mesmo estando embalada e abaixo de 23 quilos). Um absurdo!


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

De bike rumo ao Sul!



Uma bicicleta, o espírito aberto e muita disposição. Para conhecer parte deste mundão, não é necessário muito mais do que estes três elementos básicos na bagagem. Aos 41 anos, o empresário de Balneário Camboriú Fernando Baumann sai em busca de mais um desafio pessoal: pedalar sozinho um total de 1.050 quilômetros entre Porto Alegre (RS) e Buenos Aires, Capital da Argentina, em apenas nove dias.

O percurso inicia no próximo dia 27 de novembro na capital gaúcha e segue até o Chuí, cidade mais austral do Brasil. Dali, Fernando segue pelo litoral do Uruguai até Punta del Leste, Montevidéo, e Colônia del Sacramento, às margens do Rio da Prata. Na cidade, que é Patrimônio Histórico da Humanidade, ele pretende utilizar um dos sistemas de travessia de barco que existem na região para chegar a capital argentina. Esse será o único trecho do percurso onde Fernando não vai pedalar.

O empresário define a viagem como um momento pra reforçar o equilíbrio espiritual. “Não é um esforço físico, é um exercício em busca da qualidade de vida”, diz. Essa será a maior distância que percorrerá desde que começou a pedalar como aventureiro, em 1999. Até então, o maior percurso realizado pelo ciclista foi o trecho entre São Paulo e Balneário Camboriú, num total de 880 quilômetros pelo litoral.

Durante toda a viagem, a previsão é pedalar entre seis e oito horas por dia. A viagem tem o patrocino da Ciclosport (situada na Quarta Avenida) e apoio da Associação de Ciclismo de Balneário Camboriú (ACBC). A aventura poderá ser acompanhada através de fotos e relatos do próprio ciclista em cada trecho percorrido, postados diariamente neste blog (http://www.pedalandopelaamerica.blogspot.com/)